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Eu, Negra
eu sou negra.
não como adjetivo. como sentença de nascimento e liberdade em construção. sou filha de ancestrais que não cabem em livros, mas cabem em mim — na curva do nariz, no traço da boca, no balanço do andar. sou negra. e isso quer dizer que o mundo tentou me fazer pequena. mas eu cresci. mesmo assim. apesar. além. me disseram que minha pele era sombra. e eu fiz dela sol. me disseram que meu cabelo era problema. e eu fiz coroa. me disseram que meu corpo era vulgar. e eu fiz templo. eu sou negra. com toda a beleza que negaram à minha avó. com toda a fúria que tentaram domar na minha mãe. com toda a poesia que escorre do meu sangue calado por séculos. sou negra. e por isso não baixo a cabeça. não ando sozinha. carrego outras comigo, e deixo rastros de raiz por onde passo. meu amor, ser negra é ter a cor da terra, a força da maré, a paciência da pedra e o grito do trovão. não me peça silêncio. eu sou tambor. eu sou negra. e isso nunca mais será escondido.
Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 01/05/2025
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