Edna Maria

 

"À Flor da Pele."



Textos

Eu, Negra
eu sou negra.
não como adjetivo.
como sentença de nascimento
e liberdade em construção.

sou filha de ancestrais que não cabem em livros,
mas cabem em mim —
na curva do nariz,
no traço da boca,
no balanço do andar.

sou negra.
e isso quer dizer
que o mundo tentou me fazer pequena.
mas eu cresci.
mesmo assim.
apesar.
além.

me disseram que minha pele era sombra.
e eu fiz dela sol.
me disseram que meu cabelo era problema.
e eu fiz coroa.
me disseram que meu corpo era vulgar.
e eu fiz templo.

eu sou negra.
com toda a beleza que negaram à minha avó.
com toda a fúria que tentaram domar na minha mãe.
com toda a poesia que escorre do meu sangue calado por séculos.

sou negra.
e por isso não baixo a cabeça.
não ando sozinha.
carrego outras comigo,
e deixo rastros de raiz por onde passo.

meu amor,
ser negra é ter a cor da terra,
a força da maré,
a paciência da pedra
e o grito do trovão.

não me peça silêncio.
eu sou tambor.
eu sou negra.
e isso nunca mais será escondido.
Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 01/05/2025


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