Edna Maria

 

"À Flor da Pele."



Textos

SEDE DE TI, SEM TER-TE
Tenho sede.
Mas não é de água,
nem de vinho, nem de beijo.
É uma sede sem forma,
sem motivo, sem ensejo.

Tenho fome do que não provei,
ânsia de um som que nunca ouvi.
Teu nome não sei,
mas tua ausência já mora aqui.

É estranho, eu sei.
Nunca tocamos pele,
nem trocamos “oi” ou desdém.
Mas teu silêncio me persegue
como se gritasse “vem”.

Quero ouvir tua voz,
sem saber se ela é grave ou doce.
Mas juro: quando fecho os olhos,
ela me chama. Me entorpece. Me trouxe.

Tenho vontade de ler teus pensamentos
como quem abre um livro sagrado,
de saber o que você acha
do céu, do caos, do pecado.

Me conta — sem contar —
o que você sente quando chove?
Qual cheiro te desperta?
Qual medo te move?

Por que essa ânsia de ti me invade,
se nunca fomos nós?
Por que tua sombra me acaricia
com palavras que nunca saíram da tua voz?

Talvez eu te imagine,
ou talvez tu existas em mim,
feito lembrança de uma vida
que não teve começo nem fim.

Mas sei:
tenho desejo da tua opinião,
do teu suspiro diante do absurdo,
da tua resposta para perguntas
que eu nem sei se já fiz no mundo.

E essa sede?
Ah...
essa sede não passa.
Porque não é por corpo,
nem por gesto —
é por presença escassa.

É vontade de ti,
sem saber quem tu és.
É amor que nasceu
antes dos próprios pés.
Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 15/05/2025
Alterado em 16/05/2025
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