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SEDE DE TI, SEM TER-TE
Tenho sede.
Mas não é de água, nem de vinho, nem de beijo. É uma sede sem forma, sem motivo, sem ensejo. Tenho fome do que não provei, ânsia de um som que nunca ouvi. Teu nome não sei, mas tua ausência já mora aqui. É estranho, eu sei. Nunca tocamos pele, nem trocamos “oi” ou desdém. Mas teu silêncio me persegue como se gritasse “vem”. Quero ouvir tua voz, sem saber se ela é grave ou doce. Mas juro: quando fecho os olhos, ela me chama. Me entorpece. Me trouxe. Tenho vontade de ler teus pensamentos como quem abre um livro sagrado, de saber o que você acha do céu, do caos, do pecado. Me conta — sem contar — o que você sente quando chove? Qual cheiro te desperta? Qual medo te move? Por que essa ânsia de ti me invade, se nunca fomos nós? Por que tua sombra me acaricia com palavras que nunca saíram da tua voz? Talvez eu te imagine, ou talvez tu existas em mim, feito lembrança de uma vida que não teve começo nem fim. Mas sei: tenho desejo da tua opinião, do teu suspiro diante do absurdo, da tua resposta para perguntas que eu nem sei se já fiz no mundo. E essa sede? Ah... essa sede não passa. Porque não é por corpo, nem por gesto — é por presença escassa. É vontade de ti, sem saber quem tu és. É amor que nasceu antes dos próprios pés.
Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 15/05/2025
Alterado em 16/05/2025 Copyright © 2025. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. Comentários
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