Calaram minha mãe, calaram minha avó,
mas minha voz ninguém cala mais, óh!
Cortaram o som, queimaram o chão,
mas minha raiz ninguém desfaz, não!

Disseram que eu falava demais,
Que eu era intensa, dramática, exagerada.
Mas nunca disseram isso quando eu estava calada,
Engolindo choro no canto da sala,
Silenciando a dor pra não "dar trabalho"
Sumindo pra caber no mundo dos outros

Aprendi cedo a engolir.
Engoli insulto com açúcar.
Engoli a promoção negada.
Engoli o “não é pra você”.
E até o “foi só brincadeira”.

Silêncio é faca de dois gumes:
Fere quem cala e afaga quem manda.
É o “fica na sua” disfarçado de conselho.
É o “você entendeu errado” que enlouquece.
É ver o mundo passar por cima e sorrir com os dentes cerrados.

Calaram minha mãe, calaram minha avó,
mas minha voz ninguém cala mais, óh!
Cortaram o som, queimaram o chão,
mas minha raiz ninguém desfaz, não!

Mas chega.
Hoje, minha boca não é jaula.
É tambor batendo no peito do tempo.
É voz que planta rebeldia
Na beira da roda, no meio do povo.

Porque falar é existir.
Gritar é se curar.
E calar é morrer um pouco por dia.

Calaram minha mãe, calaram minha avó,
mas minha voz ninguém cala mais, óh!
Cortaram o som, queimaram o chão,
mas minha raiz ninguém desfaz, não!

Hoje, minha fala não pede desculpa.
Ela ocupa.
Ela dança.
Ela denúncia.
Ela acarinha.

Porque calar gente preta
É tentar esconder o sol com a peneira.
Mas esqueceram que a gente nasce com o verbo aceso
E a história gravada no corpo.


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