Edna Maria

 

"À Flor da Pele."



Textos

Baile de Máscaras
Outro dia, me peguei pensando num baile. Não desses com convites dourados e salões de cristal. Falo de um baile invisível, desses que a gente dança todo dia — no trabalho, na rua, até em casa, entre café e silêncio.

Cada um de nós chega com uma máscara. Algumas são coloridas, cheias de glitter. Outras pesam tanto que mal deixam a gente respirar. Tem a máscara do forte, do que dá conta. Tem a do engraçado, do que distrai. Tem a da mãe perfeita, do profissional incansável, do feliz de fachada. Um carnaval inteiro escondido atrás dos olhos.

No centro do salão, giram os arquétipos — o Herói, que carrega o mundo nas costas. O Explorador, sempre fugindo de si. O Bobo da Corte, que ri pra não desabar. Os Amantes, entre o desejo e o medo. A Grande Mãe, que acolhe até quando está em pedaços. E o Sábio, que observa calado, como se já soubesse de tudo e, ao mesmo tempo, nada.

No fundo, todo mundo só quer ser visto. De verdade. Quer dançar sem ensaio, tropeçar sem vergonha, tirar a máscara e ainda assim ser aceito.

Mas dá medo. Porque sem a máscara, a gente se mostra inteiro. Com as falhas, com as dúvidas, com os pedaços mal colados.

Jung dizia que a jornada da alma é rumo à individuação — esse nome bonito pra dizer: “vá ser quem você é, sem disfarces”. Mas que coragem precisa, meu amor, pra se encarar no espelho quando o reflexo não está maquiado?

Ainda assim, eu te digo: vale a pena.

Porque o dia em que a gente encontra alguém disposto a dançar com a gente sem nenhuma máscara… ah, esse dia é milagre. Esse dia é recomeço.

E talvez, só talvez, a vida inteira seja isso: um grande baile onde, no fim, a única fantasia que vale é a da autenticidade.

Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 21/05/2025
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