Edna Maria

 

"À Flor da Pele."



Textos

Quando Serves, Te Usam
Te dizem:
“Sejas forte, seja útil,
se mova, produza, resolva.”
E tu vais…
Com o corpo que pulsa,
com os sonhos nos ombros,
com a alma que ainda acredita.

Te aplaudem…
mas só enquanto serves.
Enquanto és peça na engrenagem,
parafuso na lógica do lucro,
carne viva na mesa dos frios.

Quando doem os teus ossos,
quando tua mente grita em silêncio,
quando já não giras como antes…
ah, aí já não és humano,
és peso, gasto, estatística,
um “ex-colaborador”.

E te perguntam:
“Cadê sua alegria de servir?”
Sem saber que te espremeram inteira,
até tua última gota de ser.

O mundo que te usou
agora passa por ti
como quem desvia do lixo.

Mas, meu amor,
teu valor não mora na máquina,
nem na produção diária,
nem no crachá pendurado.

Teu valor mora no simples existir,
no gesto, no afeto, no tempo de pausa.
Mora no “não” que protege tua saúde,
no silêncio que grita dignidade.

Um dia, quem explora
vai sentir na carne a ausência
de quem um dia foi engrenagem.

E talvez entenda — tarde demais —
que a vida não se mede em função,
mas em presença.
Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 29/05/2025
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