Edna Maria

 

"À Flor da Pele."



Textos

🕸️Corpo de Prova
Me disseram: “Você é livre.”
Mas quem me segue no mercado?
Quem me lê como ameaça
antes do meu bom-dia ser dado?

Minha cor carrega passado
que o presente insiste em negar.
A história muda os nomes,
mas não cansa de me julgar.

O navio virou favela,
o tronco virou cartão.
O açoite virou salário
e a corrente? Educação.

Nascemos com culpa herdada,
marcados sem tribunal.
Aqui, justiça é miragem
e o direito? Opcional.

Eu sei que não sou exceção,
sou a estatística encarnada.
Sou CPF suspeito,
sou porta revistada.

A cela é mais que parede.
É cor, é rua, é destino.
É quem te olha e decide
que teu lugar é o do menino
que cai sem ser amparado,
que some sem ser notado,
e vira número frio
no gráfico do Estado.

Mas eu me recuso ao silêncio.
Minha alma é tambor batendo.
Se minha existência incomoda,
é porque sigo vivendo.
Edna Maria
Enviado por Edna Maria em 12/06/2025
Alterado em 21/06/2025
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